Oi amigos, saudades de vocês... Estou em falta, mas tanta aconteceu durante esse período... Quanta coisas descobri, quantas pessoas conheci, quantos sentimentos... Um turbilhão deles se confundem em minha mente. Ainda ando muito triste, muitas vezes sinto vontade de chorar, de desistir de tudo... Mas quanto olho para trás vejo que por mais difícil que as coisas sejam, tudo tem um sentido, uma explicação. Por isso, acredito que nada acontece por acaso... Passei uma semana no hospital, por conta do internamento do meu pai. Ele teve um AVC Esquémico e devido a gravidade da doença, ele foi internado às pressas... Era um simples exame ao neurologista, uma tomografia e de repende foram dias de muito sofrimento e lágrimas. Mas também dias de muito aprendizado e reflexão. Vi homens e mulheres vulneráveis, dependentes, solitários... Gente que apenas desejava uma palavra de conforto, uma boa gargalhada para melhorar o ambiente, uma mão amiga, um pouco de atenção. Vi também homens e mulheres querendo ser deuses, mas nem sempre eles conseguem... Quantas almas cruzaram meio caminho... E como é difícil lidar com tantos sentimentos ao mesmo tempo. Durante este período, que para mim parecia eterno, minha vida parou completamente. Fiquei afastada do trabalho, perdi as provas da faculdade, quase não dormi e me alimentava mal, pois não conseguia digerir bem a comida. Eu sempre chegava arrazada ao hospital, mas quando entrava lá a primeira coisa que eu fazia era sorrir para os pacientes e perguntar como eles estavam. Eu não podia chegar com um astral baixo nem com a cara de choro. Eu respirava fundo e seguia em frente. Quanto ao meu pai, ele estava bem, na medida do possível. Seu telefone não parava de tocar, pois recebia muitas ligações dos amigos, além de ter uma assistência maravilhosa durante seu internamento; sem contar que os auxiliares de enfermagem, aqueles seres iluminados, os anjos, o tratavam com o maior carinho e atenção, assim como os outros pacientes. Admiro muito estes profissionais, que hoje tenho a certeza que na sua grande maioria, fazem seu trabalho com amor. Também cuidar de tantos pacientes não é tarefa fácil, receber tanta energia num dia só, é para guerreiro!!! Quanto a mim, eu estava descontectada com o mundo, o de lá de fora, lembra? Hospital 24 horas... Você vive outra realidade... Você convive com a solidariedade entre os pacientes, acompanhantes, funcionários... Você vive a dor que comove a todos, assim como a alegria... Uma palavra engraçada proferida manifesta diversos comportamentos, emoções entre as pessoas como por exemplo: um sorriso largo naquele paciente que só vivia triste sem falar, apenas dormia para esquecer o sofrimento. Então era isso que eu fazia... Fazia as pessoas rirem de minhas besteiras. Convivi com a dor da perda e essa tenho a certeza que jamais esquecerei... Vi os médicos tentando salvar um jovem da minha idade... Eles tentavam de tudo a reanimação... Massagem respiratória, choque cardio-eletro, mas eu já tinha a certeza de que aquele rapaz já tinha partido para outro mundo... Eu sabia e eu havia falado isso para meu pai. Mesmo assim, os médicos tentavam, revezavam entre si e nenhuma resposta... Gerou um silêncio na enfermaria... As lágrimas começaram a escorrer do meu rosto... Meu pai chorava compulsivamente... Mães de enfermos se aproximaram da mini UTI instalada na sala e em poucos minutos a mãe desse rapaz chegou... Nossa como dói lembrar disso... Ela chorava sem parar, ela gritava, pedia para o filho acordar e não a deixar... Ela não acreditava... Ela apenas perguntava porque o Deus que ela tanta acreditava tinha feito aquilo. Naquele instante pensei: não vou ter filhos para não sofrer! Mas sofremos por tantas coisas... E ser mãe deve ser algo bom, pleno, divino. Depois disso, o silêncio imperou na sala. Ninguém falava, só as lágrimas escorriam nos rostos das pessoas... Era só a dor, a perda, a falta de esperança que imperava no ambiente... A partida de mais um... Eu já estava acostumada de vê-lo, de ver a sua mãe orar e conversar com ele, mas foi a hora dele partir... Peço o bem por todas aquelas almas que encontrei e por aquelas que acredito encontrar... Saio com a consciência de que não somos nada... Apenas levamos os sentimentos bons ou ruins, os laços de amizade ou ternura e a diguinidade que tivemos nessa vida. Carcaça?! Esta é decomposta em alguns dias, meses, anos... Nada disso importa mais. Se hoje, eu sou Soraia, amanhã eu posso vir como José, Luiz, João, Maria... Ou quem sabe não retornar mais e cumprir minha missão aqui, quem sabe? Espero que a minha caminhada seja mais consciente e digna possível. Boa reflexão!