Ontem foi o dia daqueles... Acordei com o barulho do despertador se acabando de tocar, Leo aos berros me cutucando para eu não perder a hora, minha sogra a cantarolar na varanda e um eco vinha aos meus ouvidos como se um trompete estivesse tocando dentro da minha cabeça... ah, começar o dia assim... tem é história! Vi logo que o dia não seria fácil. Minha sogra não parava de falar do casamento de minha cunhada, para onde eu ia ela ia junto a contar pela milésima vez como será a tão esperada festa, falava sobre os convites, o vestido, os guardanapos... eu só fazia aquele costumeiro, ram-ram, ou o monossilábico sim e não, às vezes arriscava um talvez. Eu estava no corre-corre entre me arrumar, tomar café, conferir toda a papelada para reunião que seria às nove e ainda ter que cumprir a escutátoria matinal, já vi tudo, acabaria esquecendo algo, pior é que eu nunca lembro o quê esqueci affff! Só lembro que esqueci alguma coisa e pronto, quando acho que vou lembrar, já foi tarde. Ah, essa agonia matinal me mata e a cabeça então... Ave maria, só vivo esquecendo tudo até do que comi horas antes! Tá demais! Mas enfim, fui eu corrida para o trabalho, a reunião estava marcada para às nove, como de praxe cheguei antes para não chegar atrasada, odeio me atrasar. Gosto de me preparar para o dia, relaxar, respirar fundo antes de dar a primeira largada. O dia prometia que ia ser intenso, reuniões e mapeamentos para entregar, eu não ia parar um segundo, previ. A reunião não começou no horário previsto, atrasou uma hora e meia e quando resolveu começar... já havia se passado mais vinte minutos. Reunião rolando, explicações dos técnicos para equipe e logo-logo, uns benditos começaram a se manifestar, o povo não queria mais parar de falar, uma briga de egos tão descabida e minha barriga a roncar. Já passava do meio-dia e o povo se mantia naquele furdunço. E a discussão não saía do lugar. Não aguentei pedi licença e me retirei... precisava comerrrrr, meu almoço é sagrado e para mim barriga vazia não pára em pé. Acho que para todo mundo, menos para aqueles benditos! Não consigo pensar com fome, fui logo almoçar. Saí para o almoço e enfrentei todos os engarrafamentostos possíveis, os impossíveis ficaram para volta. Cheguei do almoço às 15:00 horas, morta de vergonha e toda desesperada achando que a reunião de quinta tinha sido transferida para segunda... aí aí, coisinha de meu deus, ô cabecinha de vento! Tinha que esquecer mesmo, mas até aí tudo bem... Cheguei tarde mesmo, bastava apenas justificar e pronto. Trabalhei que nem um burro de carga, tentei adiantar ao máximo meus projetos, as pendências, muitas, as do trabalho adiantei ao máximo, mas as da pesquisa... aff, vamos mudar de assunto, por favor... Mas como eu estava falando, a tarde para contriar todas as outras tardes foi fugaz, quando olhei para o relógio o ponteiro marcava 17: 45, meu deus, pensei: - a palestra da Maíra está marcada para as 18:30 na LDM e agora josé? Tem que dar tempo para eu chegar!! Chamei por todos os santos, deuses, orixás, até por buda eu chamei, mas faltava ainda eu converir 4 cds para as análises das estações pluviométricas e minha chefe aguardava ansiosa por minhas informações. Respirei fundo e conferir cd por cd, um por um, cuidadosamente... consegui as benditas informações! Êba!!! Consegui! Tudo certo, olhei para relógio, nãooooooooooo já eram 18:00 e agora? Fiquei nervosa!!! Prometi a Mai que faria as fotos do evento e agora? E agora? Putz... só me resta correr. Pedi uma carona para minha chefe, porque de carro eu iria cortar caminho e ganhar tempo... fiquei mais calma porque ia dá tudo certo. Quando chegamos ao rio vermelho, um diacho de uma obra criava mais um longo engarrafamento desde o largo da mariquita, tudo para atrapalhar minha vida!!! Não acreditoooooo, eu pensei alto!!! Minha chefe sem entender bulhufas porque eu falava sozinha; eu resmungava baixo, quer dizer, eu achava que estava baixo, enfim corri. Peguei o primeiro lapa que apareceu nem observei se aceitava vale transporte, só sei que entrei ainda bem que havia alguns trocados no bolso da calça. Fui com o coração na mão. Olha, nessa hora achei que o ônibus ia bater, sério mesmo, porque o motorista corria, mais corria, mais corria tanto que eu cogitei vagamente de que ele havia lido meus pensamentos, se bem que eu prefiro chegar viva, do que morrer toda esfacelada! Bom, acho que o motorista também estava com pressa, vou perdoar dessa vez! Entre fechadas e barbeiragens, cheguei a lapa a correr desesperadamente pelos corredores do shopping piedade. Só pensava, vai dá, vai ter que dá e vai dá mesmo assim... Continuava pensando, atrasou, atrasou e atrasou e pronto! O povo olhava para minha cara assustada, a correr pela piedade... cabelos desgranhados e a cara toda vermelha!!!! Corre morena, que vai dá, gritou um âmbulante da barraquinha!!! Acho que eles pensavam:- é maluca gente, deixa pra lá! Mas eu continuei a correr e ao avistar as lojas todas fechadas... Bateu aquela frustação de não ter pedido a minha chefe para sair mais cedo. Agora pensem, como eu fico se cheguei atrasadona do almoço, que dilema!!! Bom, caminhei mais devagar, apesar de manter os passos longos, cheguei a porta da livraria que se encontrava fechada. Eram 19:00 e o evento estava marcado para às 18:30. Olhei pelo vidro, bati na porta, gritei, fiquei que nem uma maluca tentando dar um jeito para o que não tinha jeito. Achei que poderia mudar a situação... os transeuntes me olhavam com uma cara de dó, só vocês vendo! Poxa gente minha cara era tão desoladora, que uma senhora com jeitinho bem extravagante se aproximou ao ver meu desespero e disse: - Fia já fechô! Ninguém vai te atendê, vá imbora! Olhei para aquela senhora, arrisquei um sorriso amarelo, sem graça e gentilmente a agradeci. Respirei fundo e fui embora com aquela sensação que desistir é muito difícil, ao menos para mim. Segundo o aurélio significa: não insistir, não querer continuar, abster-se, o que para mim é quase impossível porque ainda acredito que vale a pena tentar mesmo que seja até o último instante. Até a próxima meus caros!
Texto: Soraia Monteiro
Texto: Soraia Monteiro