(...)
“Não é difícil vermos aqui o ‘perigo verde’ substituir o ‘perigo vermelho’ e as organizações não-governamentais os ‘comunistas’. p. 169
(...)
“Assim o destino da Amazônia, particularmente daquela Amazônia real, e não aquela das imagens, dependerá do modo com que cada brasileiro for capaz de, antes de mais nada, reconhecer que a Amazônia não é desconhecida, como costuma se falar. Ao contrário, é conhecida por diferentes populações com múltiplas matrizes culturais, que forjaram suas vidas na convivência com esses ecossistemas e que, hoje, se apresentam para o diálogo político exigindo direitos e não favores; que descobriram os caminhos que lhes permitem falar com o mundo, sobretudo quando os ‘de dentro’ tentam silencia-los; que sabem, por experiência própria, que a sobrevivência de um seringueiro/castanheiro no Acre ou no Amapá, ou de uma quebradeira de coco de babaçu no Maranhão ou Tocantins, de um agrossilvicultor e de suas cooperativas em toda parte, depende de uma reforma do Estado que incorpore os ‘de baixo’ nas políticas públicas, seja pelo fortalecimento dos vínculos com o Inpa ou da Embrapa coma cultura regional, seja com o Banco do Brasil financiando a castanha ou o babaçu, por meio de cooperativas agroextrativistas, ou que a importância de óleo de mercado vegetal ou de borracha, por exemplo, não se faça em nome de uma abertura de mercado irresponsável e abstrata que ignora essas realidades.Há uma contribuição inequívoca que esses segmentos sociais trazem a todos e é necessário que afirmemos que o que está sob o perigo de extinção na Amazônia não são só as espécies vegetais ou animais mas, sobretudo, a extinção de leituras de mundo, de modos de agir, pensar e sentir.
(...)
Assim, é preciso trazer ao debate a questão da autonomia, não como idéia de território autônomo que, nesse caso, privilegia uma de suas dimensões, a geográfica, sem dúvida importante, mas que elude a outra dimensão, a esta intimamente ligada e que, também, como nos ensinam os gregos, diz respeito àqueles que se dão – auto – as próprias regras – nomos. É isso, no fundo, que queremos sugerir ao debate da/sobre e, sobretudo, com a Amazônia. Em outras palavras, que entre os que vão se dar as suas próprias regras (nomos), suas próprias normas, se inclua os que até aqui foram excluídos e entre esses, sem dúvida, estão os ‘de baixo’, os amazônidas dessas múltiplas Amazônias.” p. 169-170
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Amazônia, Amazônias. São Paulo: Contexto, 2001.
“Não é difícil vermos aqui o ‘perigo verde’ substituir o ‘perigo vermelho’ e as organizações não-governamentais os ‘comunistas’. p. 169
(...)
“Assim o destino da Amazônia, particularmente daquela Amazônia real, e não aquela das imagens, dependerá do modo com que cada brasileiro for capaz de, antes de mais nada, reconhecer que a Amazônia não é desconhecida, como costuma se falar. Ao contrário, é conhecida por diferentes populações com múltiplas matrizes culturais, que forjaram suas vidas na convivência com esses ecossistemas e que, hoje, se apresentam para o diálogo político exigindo direitos e não favores; que descobriram os caminhos que lhes permitem falar com o mundo, sobretudo quando os ‘de dentro’ tentam silencia-los; que sabem, por experiência própria, que a sobrevivência de um seringueiro/castanheiro no Acre ou no Amapá, ou de uma quebradeira de coco de babaçu no Maranhão ou Tocantins, de um agrossilvicultor e de suas cooperativas em toda parte, depende de uma reforma do Estado que incorpore os ‘de baixo’ nas políticas públicas, seja pelo fortalecimento dos vínculos com o Inpa ou da Embrapa coma cultura regional, seja com o Banco do Brasil financiando a castanha ou o babaçu, por meio de cooperativas agroextrativistas, ou que a importância de óleo de mercado vegetal ou de borracha, por exemplo, não se faça em nome de uma abertura de mercado irresponsável e abstrata que ignora essas realidades.Há uma contribuição inequívoca que esses segmentos sociais trazem a todos e é necessário que afirmemos que o que está sob o perigo de extinção na Amazônia não são só as espécies vegetais ou animais mas, sobretudo, a extinção de leituras de mundo, de modos de agir, pensar e sentir.
(...)
Assim, é preciso trazer ao debate a questão da autonomia, não como idéia de território autônomo que, nesse caso, privilegia uma de suas dimensões, a geográfica, sem dúvida importante, mas que elude a outra dimensão, a esta intimamente ligada e que, também, como nos ensinam os gregos, diz respeito àqueles que se dão – auto – as próprias regras – nomos. É isso, no fundo, que queremos sugerir ao debate da/sobre e, sobretudo, com a Amazônia. Em outras palavras, que entre os que vão se dar as suas próprias regras (nomos), suas próprias normas, se inclua os que até aqui foram excluídos e entre esses, sem dúvida, estão os ‘de baixo’, os amazônidas dessas múltiplas Amazônias.” p. 169-170
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Amazônia, Amazônias. São Paulo: Contexto, 2001.
Nenhum comentário:
Postar um comentário